Arquiteto destaca pontos fundamentais que não devem ser deixados de lado quando o assunto é isolamento acústico
Quem mora em condomínio sabe como é importante um bom relacionamento com os vizinhos, especialmente em se tratando de ruídos. Quantas vezes os passos do salto alto da moradora de cima pisaram forte demais? E o arrastar de móveis, que parecem ser dentro da nossa casa? É por esse tipo de incômodo que o arquiteto Flávio Simões, da Atelier Sul, insiste na importância de considerar o projeto acústico dos ambientes na hora da construção.
O arquiteto explica que o problema crítico das novas construções é a falta de isolamento acústico, especialmente provocado pela utilização de materiais cada vez mais leves. Ele afirma que as solicitações para aumentar o isolamento de pisos são de difícil execução após a conclusão das obras. “A instalação dos pisos flutuantes demanda a remoção dos já existentes, aplicação de base de painel resiliente e execução de piso flutuante. Após esse procedimento, devem ser realizados ajustes nas alturas de portas e acessos”, detalha. Por isso, é necessário um bom projeto, que considere o silêncio como um fator a priorizar.
Apesar de Simões citar a necessidade de um projeto acústico, ainda não há em Porto Alegre uma norma ou legislação que especifique os níveis de isolamento em construções habitacionais. “Aqui, temos a Lei do Silêncio – Dec. Lei 8185/83 (logo abaixo) – que indica os níveis de ruído que podem ser emitidos pelas atividades industriais, comerciais e serviços, sem especificar o isolamento das edificações.” Porém, deve-se considerar a relatividade da lei, já que ela não define níveis máximos de ruídos.
Art. 1° - É vedado perturbar o sossego e o bem estar público com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma ou que contrariem os níveis máximos fixados neste Decreto.
Existe em elaboração uma Norma de Desempenho de Edifícios Habitacionais, NBR 15575, da ABNT. A previsão é que entre em vigor a partir de março de 2013. O objetivo é avaliação do desempenho de edifícios habitacionais em diversos itens, como estrutura, pisos, paredes, coberturas e sistemas hidrossanitários. “Quanto à acústica, a norma estabelece os requisitos e critérios de desempenho, indicando três níveis de isolamento acústico para diversos ambientes: mínimo, intermediário e superior”, relata Simões.
Além disso, ele acredita que a norma obrigará as construtoras a terem um mínimo de preocupação com o desempenho acústico da residência. Assim, serão evitados problemas que poderiam ser resolvidos ainda no momento da obra. “A questão é que o projeto no papel não faz barulho; somente após a conclusão das obras e ocupação do espaço os ruídos aparecem. O projeto de isolamento acústico incorporado ao projeto arquitetônico resulta em menor custo e mais eficiência na redução de ruídos”, conclui. Os níveis de isolamento acústico deverão estar indicados no memorial descritivo do condomínio, especificando em que grau de isolamento se encaixam pisos, paredes e fachadas adotados no projeto. Dessa forma, o consumidor poderá optar por um apartamento silencioso no momento da compra, estando resguardado de posteriores surpresas desagradáveis.
Como reflexo da aplicação da norma, já há uma preocupação das construtoras para se adequar às mudanças. Uma consequência negativa dessa exigência é o aumento dos custos da obra, diretamente proporcional ao acréscimo do conforto do consumidor. Assim, também há movimentação dos fabricantes de materiais de construção, que estão empenhados em oferecer produtos eficientes, com menor custo e que atendam à NBR 15575. Flávio Simões diz que, para desenvolver novas tecnologias, certos cuidados são tomados: “Todos os materiais devem ser testados em laboratórios para certificar seu desempenho para, então, serem aplicados em obra. Principalmente produtos para isolamento acústico de ruído de impacto para pisos, com matéria-prima proveniente de materiais reciclados, como vidro, garrafas PET, sobras de EVA da indústria de calçados etc.”
O arquiteto defende que o morador de um apartamento planejado acusticamente tem mais conforto e sofre menos estresse. Além da garantia de silêncio dos outros apartamentos, se ele possuir equipamentos de som, como home theater, conseguirá obter a totalidade de desempenho do seu sistema.
Grandes projetos
A Atelier Sul é a empresa que assina o projeto acústico da reforma do Auditório Araújo Vianna. Simões conta que o escritório está envolvido desde 1997, devido aos problemas acústicos da antiga cobertura têxtil, tanto de transmissão para o exterior como qualidade acústica das apresentações
“A substituição da cobertura permitiu que fossem corrigidos todos os problemas de isolamento acústico e do tempo de reverberação do auditório. Devido à forma da cobertura, foi necessário a execução de diversos protótipos da cobertura para testes de laboratório, realizados no Laboratório de Acústica da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria, para comprovação do desempenho. Com a utilização de diversas camadas de madeira e mantas acústicas atingimos isolamento adequado para o local. O controle da reverberação foi resolvido com a utilização dos materiais apropriados que ficarão aparentes sob a nova cobertura em madeira”, conta Simões.
Fonte: ÂNGELA ROSA - REVISTA PENSE IMÓVEIS