Sol, chuva e até vento interferem na resistência e na aparência das madeiras usadas em espaços internos e externos. Para tê-las sempre vistosas, entram em cena os tratamentos próprios para esse material.
Muito usada em esquadrias, decks, vigas e pilares, a madeira pede alguns cuidados, principalmente se está exposta a sol e intempéries. Se o objetivo for garantir sua longevidade, não basta selecionar uma versão adequada ao local – as opções de alta densidade (cumaru, jatobá, roxinho), por exemplo, são ideais para a estrutura da casa. Você também precisa acertar na escolha e na aplicação de produtos capazes de protegê-la, considerando que há um tipo mais recomendado a cada situação. “Comece entendendo as propriedades da madeira. Tecnicamente, ela é um feixe de fibras que sofre contrações e dilatações de acordo com o ambiente”, detalha Flávio Geraldo, diretor da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM), de São Paulo. Esse movimento contínuo de expansão e encolhimento causa desgastes, pois permite a entrada de água, micro-organismos e insetos, como fungos e brocas. “Antes de decidir que proteção adotar, certifique-se, em primeiro lugar, de que a espécie a ser adquirida é de origem conhecida [o atestado de legalidade das madeiras nativas chama-se Documento de Origem Florestal – DOF]. Ela também deve estar bem seca. Sem isso, não há como o trabalho ser eficiente”, alerta o arquiteto André Luque, de São Paulo. A norma técnica brasileira NBR 7 190 explica qual o tratamento mais indicado de acordo com o uso e é referência para quem está em dúvida. “Uma peça em contato com o solo requer um tipo de cuidado. Quando está exposta ao tempo e à maresia, pede outro. Para cada local, existe uma classe específica de preventivos”, aponta Flávio Geraldo. A maneira como deve ser feita a primeira aplicação – sobre a superfície seca, acompanhando o sentido das fibras – é um dos pontos em comum entre vernizes e stains. Os valores também se equiparam. “Um bom verniz tem preço similar ao de um bom stain. Mas o custo não serve como opção de escolha”, acrescenta Flávio. Confira as alternativas disponíveis nas prateleiras e, ao virar a página, avalie as diferenças entre os dois tratamentos.
Stain: proteção transparente
Com composição rica em óleo, esse impregnante penetra nas fibras da madeira sem formar película nem alterar a cor original. “Um grande atrativo é a manutenção rápida e barata, pois o stain não exige a retirada da camada antiga para a reaplicação”, defende o arquiteto André Luque. Menos conhecido entre os pintores, ele pede alguns cuidados. “Como é bem mais ralo que o verniz, pode confundir um profissional inexperiente, que vai exagerar nas demãos em busca de um resultado mais visível”, ressalta Fernando de Sousa, promotor técnico da Lukscolor. Além disso, muitas vezes torna-se difícil perceber o momento de repassar o stain, trabalho que costuma ser necessário a cada dois ou três anos, de acordo com a opção adotada e o local. Por outro lado, quando a madeira fica opaca ou esmaecida, basta limpar ou lixar de leve a superfície antes de reaplicar o tratamento. Se apenas algumas partes do acabamento estiverem desgastadas, você pode usar diferentes quantidades do produto, conforme a necessidade em cada área. “Igualar a cor não é difícil”, afirma a designer paulistana Claudia Garcia Gamio, que costuma adotar o produto na conservação de decks.
Verniz: opção multifuncional
Ele forma uma película sobre a superfície e a protege da umidade. Essa camada, no entanto, impede a saída de água, prejudicial quando a madeira está verde (úmida). “Isso costuma ocasionar bolhas na área envernizada”, explica Flávio Geraldo. Segundo Fernando de Sousa, da Lukscolor, há grande variedade de vernizes, e os mais modernos criam uma película emborrachada capaz de acompanhar o movimento da madeira. O poder hidrorrepelente, às vezes reforçado por fungicidas, é outro ponto alto. E os fabricantes agora oferecem versões acetinadas, além das tradicionais, brilhantes. Por fim, como se trata de um tipo de tratamento mais conhecido, existe maior oferta de mão de obra treinada. A proteção solar presente em alguns produtos, no entanto, pode apresentar inconvenientes. “Quanto mais pigmento, maior o risco de amarelamento”, comenta Fernando. Outro inconveniente: antes da reaplicação, que costuma acontecer a cada três anos, em média, você deve retirar toda a camada antiga com lixa, máquina ou removedor específicos. Um dos indícios que ajudam a perceber essa necessidade é o craquelamento da superfície.
Tonalidades diversificadas:
O stain, bem-vindo em áreas internas e externas, está dividido em duas categorias.
- Preservativo: com ação fungicida comprovada por ensaios técnicos normatizados pela ABNT.
- Acabamento: pode ou não conter fungicida ou algicida. É incolor ou da tonalidade da madeira (chamado de tingidor). A cor age como uma camada extra de filtro solar. Possibilita até clarear uma superfície escura, mas é mais fácil escurecer uma clara. Dica: cuidado ao comprar versões importadas. “No Brasil, a insolação é maior que a de alguns países e isso exigirá reaplicação num prazo menor que o indicado na lata”, orienta o técnico Nelson Ribeiro, da Montana.
Funções específicas:
A maioria dos vernizes serve para áreas externas, com exceção dos básicos, como o Copal. Segundo Gisele Bonfim, da Associação Brasileira de Fabricantes de Tintas (Abrafati), só as opções para uso interno trazem o selo do Programa Setorial da Qualidade (PSQ).
- Base água: tem proteção parecida com os de base solvente, mas possui menoscompostos voláteis.
- Com filtro solar: cria uma barreira contra os raios UV (dupla ou tripla).
- Marítimo: resguarda das intempéries com menor alteração da cor da madeira.
- Tingidor: a camada de pigmento age como proteção extra contra sol.
Fonte: Clube da Construção